O primeiro desafio no desenvolvimento do projeto arquitetônico para o concurso do Centro Multiuso foi a elaboração de um programa que ultrapassasse as atividades básicas apresentadas no edital e incluísse outras, pautadas na compreensão das necessidades do contexto no qual está inserida a comunidade do Sol Nascente, no Distrito Federal.
A carência de espaços livres de lazer, a resistência cultural e a expressiva exclusão socioeconômica e educacional da população local foram aspectos que indicaram um caminho para a compreensão da identidade do lugar e a sua ressignificação.
Nesse sentido, a proposta projetual para o Centro Multiuso do Sol Nascente foi ancorada em quatro pilares conceituais: Identidade, Urbanidade, Versatilidade e Sustentabilidade, e compreendeu diversas ações.
Os volumes do partido arquitetônico foram elevados do solo, o que permitiu a liberação do térreo para uma praça aberta às trocas comerciais e à integração social, e a criação, nos pavimentos superiores, dos espaços necessários às atividades de expressão cultural, à capacitação profissional e à geração de oportunidades para pequenos negócios, por meio de ambientes colaborativos.
A distribuição dos setores do edifício em meios níveis, com a diminuição dos percursos das rampas, corrobora para otimizar a acessibilidade e para criar uma dinâmica visual entre os espaços de cada bloco e o vazio do pátio aberto central.
Ao criar, no térreo, uma praça integradora de lazer e convívio social como extensão dos espaços públicos, foi possível garantir o fluxo dos pedestres entre os desníveis do terreno e a conectividade entre as vias adjacentes ao lote. Esta estratégia teve rebatimento direto na permeabilidade visual e na integração entre os espaços do edifício e do bairro.
Ainda no térreo, os espaços comerciais foram dispostos em dois setores de acordo com a vocação da área. Próximo à Avenida Central Sul, reservamos um espaço propício ao uso de lojas, e na lateral oposta, implantamos uma praça de alimentação para gerar fluxos e fomentar uma apropriação mais intensa dos espaços. As fachadas ativas do comércio no térreo garantem que o edifício contribua com a vivacidade urbana, gerando um impacto positivo na percepção da segurança pelas pessoas.
Em relação à mobilidade urbana, propomos uma parada de ônibus na Avenida prefeito Josias José de Castro para garantir o fácil acesso das pessoas que se utilizam de transporte público coletivo. Paralelo a esta mesma avenida, recuamos o edifício para inserir áreas de estacionamento para veículos e motocicletas, embarque e desembarque. Na rua oposta, junto à comunidade, inserimos o acesso principal e áreas para embarque e desembarque de ônibus e local de paraciclos.
O programa administrativo e cultural do edifício foi distribuído em níveis intermediários e agrupados por afinidade temática. Logo acima do nível do térreo, a 4m do solo, locamos o setor administrativo e o coworking – espaço compartilhado com finalidade de criar oportunidades para microempreendedores, startups e outros negócios inovadores.
Implantamos, no nível 6m, a biblioteca com visão para o pátio interno, as oficinas, a rádio comunitária e o estúdio de música com o devido tratamento acústico, de forma a não interferir nas atividades de estudo e leitura.
Reservamos o nível 8m para o acesso ao auditório e às salas multiuso e o nível 10m para a galeria e as salas de acervo e depósito. A galeria possui um espaço aberto no acesso frontal e uma varanda voltada para a testada do lote. Estes espaços extras permitem a ampliação das áreas sociais, sempre necessários quando da realização de eventos e aberturas de exposições.
No nível 12m, locamos a área técnica e a caixa cênica e deixamos uma área descoberta sobre o teto do auditório para a utilização como mirante e como área coringa para possível expansão ou realização de eventos em espaço aberto.
Em todos os pavimentos, foram propostas áreas de convívio onde os usuários pudessem compartilhar ideias e experiências e estabelecer conexões intelectuais e afetivas.
A locação das circulações verticais e banheiros no perímetro lateral do edifício, em um core de concreto combinado com o uso de estrutura metálica e viga treliçada, possibilitou ampliar os vãos e a criação de pavimentos livres com plena flexibilidade de usos.
A decisão de posicionar os cores de circulação vertical na porção nordeste criou um situação de vulnerabilidade térmica em relação à fachada sudoeste, que na nossa visão deveria ser a mais aberta possível.
O recurso que utilizamos para solucionar esse empecilho foi aplicar placas microperfuradas duplas sobre a estrutura metálica e afastá-las 1m das esquadrias basculantes em aço e vidro para criar um colchão de ar e permitir a ventilação cruzada, captada por meio da fachada sudeste.
As fachadas externas e internas voltadas para o sudeste foram protegidas com brises horizontais, enquanto que as fachadas voltadas para o noroeste receberam, além dos brises, a aplicação de pérgolas em paralelo. O aproveitamento da ventilação e da iluminação natural, por meio de aberturas basculantes e envidraçadas, contribui para o uso racional da energia e a eficiência energética.
Como o edifício foi elevado 1m em relação a cota mais alta do terreno, foi criado um espelho d’água na fachada nordeste com o propósito de umidificar o ar que perpassa o vazio das rampas, mantendo os ambientes mais amenos nos dias mais secos do ano, em especial o térreo.
Ficha técnica
Autores: Oliveira Júnior, Thálita Zavaski, Alex Fagundes, Joellington Marinho, Thyago Ramon
Colaboradores: Geovane Herculano e Raquel Toscano
Conforto ambiental: Jean Fechine
Renders: Thyago Ramon
Ano do projeto: 2018
Localização: Brasília-DF